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Correios "subsidiam" compras online de produtos da China

Os dirigentes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) identificaram o crescimento súbito de uma nova figura na internet: o “camelô eletrônico”.

São importadores on-line de bugigangas que compram a preços muito baixos em sites chineses para revenda no Brasil. Produtos de até US$ 100 entram no país sem pagar impostos. Esse novo fluxo de mercadorias, somado às encomendas para consumo próprio, traz uma dor de cabeça enorme para os Correios: o presidente Guilherme Campos calcula que a estatal acaba subsidiando os fornecedores da China em cerca de R$ 1 bilhão por ano.


Chegam aproximadamente 300 mil objetos por dia útil ao Brasil – aumento de 200% do volume diário em um período de só dois anos. Itens de vestuário, livros, eletrônicos e pequenos utensílios domésticos estão no topo das preferências. Mais da metade de tudo o que é despachado inclui uma oferta bastante tentadora ao consumidor: frete gratuito. O problema é que esse benefício esconde uma “manobra” comercial, diz Campos.


Os sites chineses contratam serviços postais mais baratos, chamados de “pequenas encomendas simples”, sem nenhum código de rastreamento. Nessa opção, fica impossível fazer o acompanhamento da encomenda em tempo real e não há nenhuma garantia de que ela foi efetivamente postada.


Outro problema comum é o uso de etiquetas fora do padrão internacional. As etiquetas de endereço mais utilizadas pelos chineses não trazem informação do CEP do destinatário em código de barras, o que impede que essa carga seja processada por máquina de triagem automatizada. O tratamento manual tem impacto negativo sobre todo o processo, incluindo prazos, observa a ECT.


Por uma encomenda registrada, como deveria ocorrer, os Correios receberiam pelo menos cinco vezes mais para fazer esse processamento e a entrega das encomendas. Deixa-se de faturar R$ 15 por volume. “Os países que recebem produtos da China subsidiam a distribuição em cada um dos seus mercados”, diz Campos.


De acordo com ele, no caso do Brasil, isso representa uma perda de R$ 1 bilhão por ano – ou 6% de toda a receita da estatal em 2017, que acumula três anos seguidos de prejuízos bilionários. Campos explica que o expediente é adotado por sites de outros países, em menor medida, mas a preocupação tornou-se maior no caso da China devido à enxurrada de mercadorias importadas do país. Ele relata o “aumento desproporcional” de reclamações aos Correios por demora na entrega. Isso seria um indício de que boa parte dos produtos não tem como destino final os próprios clientes dos sites, mas que são objeto de revenda pelos tais “camelôs eletrônicos”.


O tema já foi levantado em reuniões da União Postal Universal (UPU), agência das Nações Unidas dedicada aos serviços postais, que tem 192 membros.


A pressão internacional sobre os chineses ainda é tímida, mas começa a aumentar. Em novembro, um grupo de 11 congressistas americanos enviou carta ao US Postal Service e ao secretário de Estado, Rex Tillerson, pedindo ações contra os subsídios à China. Nenhuma reclamação formal, porém, foi protocolada até agora contra o gigante asiático.


A reação dos congressistas surgiu dias após um tuíte do presidente Donald Trump que fez desabar as ações na Amazon. Ele acusou a varejista do comércio eletrônico de lucrar pagando preços indevidos de frete ao serviço postal americano.


Os Correios estão buscando uma aproximação com Pequim para discutir o problema e convencer fornecedores chineses a enviar informações eletrônicas. A empresa também pretende implementar, ainda em 2018, um sistema que levaria o comprador a pagar o custo do frete no momento de entrega da encomenda. Se isso ocorrer, a oferta de frete grátis acabaria sendo inócua.


O prazo estimado que a ECT dá para a entrega de objetos trazidos do exterior como pequenas encomendas simples é de 40 dias úteis após a liberação pelo serviço aduaneiro. Em média, desde a postagem, a espera do cliente pela entrega pode chegar a três meses.


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