Shoppings melhoram preços e condições contratuais
A crença de que períodos de crise podem gerar boas oportunidades está se mostrando verdadeira, pelo menos no segmento de shopping centers. Depois de uma fase de baixa procura por lojas, o mercado voltou a reagir e as duras negociações anteriores à crise cederam espaço a contratos mais flexíveis, colocando locatário e locador menos como adversários e mais como parceiros. Nesse cenário, grandes marcas varejistas voltam a investir em espaços maiores e lojas conceito, atraídas por vantagens que vão da isenção de luvas à redução de aluguéis de até 50%.
O ano de 2017 está sendo marcado pelo reaquecimento dos shoppings, diz Antonio Horácio, diretor comercial da Ancar Ivanhoe. O executivo lista um número de marcas fortes que já fecharam negócio com a Ivanhoe, caso da Claro, que inaugurou uma loja conceito no Iguatemi Porto Alegre e está tocando a obra de uma segunda loja conceito no Rio Design Barra, e da Adidas, que também inaugurou um outlet no Shopping Nova América, também no Rio.
“A partir do terceiro trimestre deste ano o impulso foi maior. Entre janeiro e setembro o volume de negócios cresceu 25% em relação a igual intervalo de 2016 e as perspectivas para o próximo ano são excelentes”, afirma Horácio. Na opinião do executivo, “o humor do mercado é outro e os números já traduzem essa realidade”. “Os lojistas estão sendo atraídos pelas boas oportunidades do mercado e sabem que este é o melhor momento para ir às compras”, afirma.
A clínica de depilação Espaçolaser, que tem como sócia a apresentadora de TV Xuxa Maneghel, já tinha programado a abertura de 80 lojas ao longo deste ano, mas acelerou o processo. “A crise econômica propiciou boas oportunidades de negócios e acelerou a expansão de lojas nos shopping centers por causa da vacância e da isenção do pagamento de luvas”, diz José Carlos Semenzato, sócio-presidente da empresa.
Dos 305 pontos da Espaçolaser abertos de 2015 até agora, 80% foram instalados dentro de shoppings, com custos entre 20% e 30% mais baixos em comparação a períodos de economia aquecida. “Todos os shoppings, inclusive o Iguatemi, em São Paulo, começaram a nos procurar e a fazer propostas de negócios bastante compensadoras e com isso reposicionamos a marca”, diz.
Luis Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Associação dos Lojistas dos Shoppings (Alshop), confirma que a crise provocou queda acentuada da receita do setor, obrigando executivos de shoppings a repensar sua posição. “Com o tempo, o empreendedor entendeu a necessidade de uma negociação mais elástica. E isso foi feito muito rapidamente para que a vacância não aumentasse demais”, afirma. O resultado foi que as marcas de maior poder econômico e mercadológico foram às compras e encontraram condições vantajosas para os dois lados”, afirma. Embora não disponha de nenhum estudo, ele assegura que “o nível de vacância cai a cada mês”. Não quer dizer que as boas ofertas acabaram, comenta. “Ainda há muita coisa boa disponível”, afirma.
De todo modo, o impacto já se reflete na receita do segmento que deverá crescer entre 3% e 4% em 2017, frente uma retração de 3,2% no ano anterior. Em valores, o faturamento de 2016 atingiu R$ 140,5 bilhões.
“A balança está mais equilibrada e conseguimos pontos estratégicos que, antes da crise, não conseguiríamos; obtivemos descontos de até 50%”, diz Silvio Korytowski, diretor da Hope Lingerie. O atual momento permitiu à companhia se instalar nos centros de compra Boulevard Belo Horizonte e Super Shopping Osasco, locais que não seriam viáveis no passado. “Voltamos até para o Shopping Iguatemi. de Florianópolis”, comemora. Nesses centros de compras Korytowski selou contratos temporários. “À medida que a economia reagir, os valores serão revistos”, explica.
Para Andrea Kohlrausch, diretora de varejo da Bibi Calçados, chegou o momento de retomar os investimentos e aproveitar todas as oportunidades disponíveis. Conseguir um espaço no Shopping Higienópolis sempre esteve nos planos da marca, mas o investimento era muito alto. “No primeiro trimestre de 2018 vamos inaugurar um ponto de venda lá, que saiu pela metade do preço, R$ 2 milhões”, conta.
Os espaços nas praças de alimentação dos shoppings também estão abrindo o apetite dos investidores. “Nossa primeira loja conceito, com 110 metros quadrados, já está em obras no Shopping Cidade, em Belo Horizonte (MG)”, diz Reinaldo Varela, fundador e presidente do Divino Fogão. Outras três lojas já foram negociadas e terão a mesma metragem. Antes, os espaços da empresa se limitavam a 40 metros quadrados. “Não pagamos luvas e tivemos o preço reduzido em pelo menos 50%. Não fossem esses abatimentos não teríamos alugado”, diz.
Eduardo Sampaio, diretor de marketing e expansão da Alphabeto, rede de roupas infantis, não perdeu a chance de reposicionar sua marca e estreou em mais quatro shoppings, de uma vez, entre eles o Shopping D. Pedro, em Campinas (SP) e o Águas Claras, em Brasília (DF). “Nada disso seria possível não fosse o momento econômico do país”, avalia.