Projeto é fundamental para definir o sucesso de um shopping
A construção de um shopping pode transformar inteiramente um bairro ou até uma cidade. Em Salvador, por exemplo, a inauguração do antigo Iguatemi, atual Shopping da Bahia, em 1975, ajudou a consolidar o Caminho das Árvores como área residencial de alto padrão e atraiu o centro financeiro para a área que viraria a Avenida Tancredo Neves.
Além da atividade econômica, com o passar do tempo os shoppings se tornaram centros de convivência, com adolescentes lotando as praças de alimentação. "Eles se tornaram o que eram as praças, por influência da insegurança", afirmou o arquiteto Francisco Mota, um dos maiores especialistas em projetos de shoppings do estado.
Ele acaba de lançar, juntamente com o sócio André Sá, o livro Um diálogo da arquitetura com os shopping centers. A dupla já fez projetos para mais de 70 estabelecimentos do gênero em todo o país. Um negócio que está avançando pelo interior do Brasil.
Segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), 67% das inaugurações desse tipo de empreendimento em 2015 ocorreram no interior e em regiões metropolitanas. Este ano, estão previstas inaugurações de shoppings em todo o país, dos quais 23 estarão fora das capitais.
"Este movimento mostra a força e consolidação dos shoppings fora dos grandes centros, que hoje são polos de consumo consolidados", afirma Francisco Ferraz, diretor de shoppings da 5R, uma empresa paulista que administra centros comerciais.
Em Salvador, a dificuldade para a implantação de novos grandes shoppings decorre basicamente da escassez de terrenos disponíveis. Algo que pode mudar com a construção de novas vias, como a Linha Viva, a Linha Azul e a Linha Amarela, já previstas.
Mota não considera que o novo PDDU torne mais fácil ou difícil construir shoppings na cidade. Apenas que vai haver mais rigor quanto ao impacto causado no tráfego, por exemplo. Seu sócio, André Sá, considera que as últimas propostas do PDDU e da Louos têm apresentado algumas medidas que definem melhor o uso do solo para áreas comerciais, "Os novos índices (de uso comercial) aumentam em certos bairros, criando novos espaços para shopping centers.
Foco no mercado Mas o que determina o êxito? Sá avalia que o ponto decisivo para o shopping ter sucesso é ser focado no mercado para o qual está direcionado. "Tem que se adequar o máximo possível às demandas que ele (mercado) oferece". Um exemplo citado por ele em Salvador foi o conceito adotado no projeto original do Shopping Barra. "Através dos revestimentos de fachada, piso e paredes, além da arquitetura de interiores com cores mais neutras e sofisticadas, foi direcionado para as classes média e média-alta, indo de encontro aos conceitos mais simples, optando por cores mais fortes e estilo menos sofisticado, projetados para o mercado classes média e média-baixa, temos o exemplo do Shopping Piedade". A dupla foi responsável pelos dois projetos.
Mota e André se formaram no final da década de 1960. Em 1975, quando a Nacional Iguatemi instalou-se em Salvador para construir o Shopping Iguatemi (o terceiro mais antigo do país), os dois formaram parte da equipe. Em 1983, com o domínio dos conceitos vindos de São Paulo, abriram o próprio escritório.
Especialista em shopping centers e varejo, o diretor da consultoria paulista Make it Work, Michel Cutait cita quatro motivos pelos quais um bom projeto é determinante. Primeiro, que a localização define as lojas-âncora e o mix de serviços e produtos. Segundo, confere ao empreendimento uma identidade, que poderá ser percebida pelos consumidores nos elementos de design e nas soluções do espaço.
Em terceiro, o diferencial estético, de conforto e funcionalidade. E, por último, porque permite que os investidores revertam seus investimentos em forma de valorização da sua propriedade. "Isso pode representar uma vantagem significativa em termos de retorno financeiro, porque um empreendimento reconhecido e admirado causa um impacto positivo em toda a região onde foi instalado", diz Cutait.
Fonte: Gouvêa de Souza.